Tropicalismo ou
Movimento tropicalista foi um
movimento cultural brasileiro que surgiu sob a influência das correntes artísticas de
vanguarda e da
cultura pop nacional e estrangeira (como o
pop-rock e o
concretismo); misturou manifestações tradicionais da
cultura brasileira a inovações estéticas radicais. Tinha objetivos comportamentais, que encontraram eco em boa parte da sociedade, sob o
regime militar, no final da
década de 1960. O movimento manifestou-se principalmente na
música (cujos maiores representantes foram
Gilberto Gil,
Torquato Neto,
Os Mutantes e
Tom Zé); manifestações artísticas diversas, como as
artes plásticas (destaque para a figura de
Hélio Oiticica), o
cinema (o movimento sofreu influências e influenciou o
Cinema novo de
Gláuber Rocha) e o
teatro brasileiro (sobretudo nas peças anárquicas de
José Celso Martinez Corrêa). Um dos maiores exemplos do movimento tropicalista foi uma das canções de Caetano Veloso, denominada exatamente de "Tropicália".
O movimento surgiu da união de uma série de artistas
baianos, no contexto do
Festival de Música Popular Brasileira promovidos pela
Rede Record, em
São Paulo, e
Globo, no
Rio de Janeiro.
Um momento crucial para a definição da
Tropicália foi o
Festival de Música Popular Brasileira, no qual Caetano Veloso interpretou "
Alegria, Alegria" e Gilberto Gil, ao lado dos Mutantes, "
Domingo no Parque". No ano
seguinte, o festival foi integralmente considerado tropicalista (
Tom Zé aí apresentou a canção "São Paulo"). No mesmo ano foi lançado o disco
Tropicália ou
Panis et circensis, considerado quase como um
manifesto do grupo.
Influências: movimento antropofágico, pop art, concretismo.
Antropofagia
Grande parte do ideário do movimento possui algum tipo de relação com as propostas que, durante as
décadas de 1920 e
30, os artistas ligados ao
Movimento antropofágico promoviam (
Mário de Andrade,
Tarsila do Amaral,
Oswald de Andrade,
Anita Malfatti,
Menotti del Pichia,
Pagu entre outros): são especialmente coincidentes as propostas de
digerir a cultura exportada pelas potências culturais (como a
Europa e os
Estados Unidos) e
regurgitá-la após a mesma ser mesclada com a cultura popular e a identidade nacionais (que em ambos os momentos não estava definida, sendo que parte das duas propostas era precisamente
definir a cultura nacional como algo heterogêneo e repleto de diversidade, cuja identidade é marcada por uma não identidade mas ainda assim bastante rica).
- Pop art
A grande diferença entre as duas propostas (a antropofágica e a tropicalista) é que a primeira estava interessada na
digestão da cultura erudita que estava sendo exportada, enquanto os tropicalistas incorporavam todo tipo de referencial estético, seja erudito ou popular. Acrescente-se a isso uma novidade: a incorporação de uma cultura não necessariamente popular, mas
pop). O movimento, neste sentido, foi bastante influenciado pela estética da
pop art e reflete no Brasil algumas das discussões de artistas pop (como
Andy Warhol).
- Concretismo
Ainda que tenha sido bastante influenciado por movimentos artísticos que costumam estar associados à idéia de
vanguarda negativa, o
Tropicalismo também manifestou-se como um desdobramento do
Concretismo da
década de 1950 (especialmente da
Poesia concreta). A preocupação dos tropicalistas em tratar a poesia das canções como elemento plástico, criando jogos lingüísticos e brincadeiras com as palavras é um reflexo do
Concretismo.
Embora marcante, o Tropicalismo era visto por seus adversários como um movimento vago e sem comprometimento político, comum à época em que diversos artistas lançaram canções abertamente críticas à ditadura. De fato, os artistas tropicalistas fazem questão de ressaltar que não estavam interessados em promover através de suas músicas referências temáticas tradicionais à problemática político-ideológica, como feito até então pela
canção de protesto: acreditavam que a experiência estética vale por si mesma e ela própria já é um instrumento social revolucionário.
Durante a
década de 1960, delinearam-se na
música popular brasileira quatro grandes tendências:
- a primeira era composta por alguns dos artistas que herdaram a experiência da Bossa Nova (ou seus próprios representantes), e compunham uma música que estabelecia relações com o samba e o cool jazz (grupo no qual pode-se inserir a figura de Chico Buarque);
- um segundo grupo, reunido sob o título "Canção de Protesto", se recusava a aceitar elementos da música pop estrangeira, em defesa da preservação da cultura nacional frente ao imperialismo cultural, e via a canção, acima de tudo, como um instrumento de crítica política e social (neste grupo destaca-se a figura de Geraldo Vandré);
- um terceiro grupo, interessado em produzir um tipo de música que possuía forte influência do rock inglês e norte-americano, tão em voga no mundo daquele período, e que aqui no Brasil ficou conhecido como iê-iê-iê ou Jovem Guarda (neste grupo destacam-se artistas como Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia).
- e finalmente um quarto grupo, especialmente dedicado a promover experimentações e inovações estéticas na música formado justamente pelos artistas tropicalistas.
Alguns dos artistas participaram de mais de uma desses grupos, mas o estilo dessas correntes eram distintos e tinham características próprias e delimitadas.
Dado o caráter repressivo do período, a intelectualidade da época (e principalmente determinadas fatias da juventude universitária ligadas ao
movimento estudantil) tendiam a rejeitar a proposta tropicalista, considerando seus representantes alienados. Apenas décadas mais tarde, quando o movimento já havia se esvaziado, ele passou a ser efetivamente compreendido e deixou de ser tão criticado.
FONTE:http://pt.wikipedia.org/wiki/Tropic%C3%A1lia
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