quinta-feira, 7 de junho de 2012

O Malandro e a Princesa

imagem extraída do site http://baiaodetudo.blogspot.com


Uísque com gelo. Bebo, enquanto a observo no outro extremo do bar. Está linda: vestido justo, salto alto, cabelos soltos, batom intenso. Finge não me ver, mas pouco importa. Depois de semanas, acho até engraçado. Observo suas pernas feito um adolescente, desejando cada centímetro como se nunca as houvesse explorado. Cruzam-se e descruzam-se, infinitas, conhecedoras das fraquezas deste malandro.

Brigamos há um mês. Desde então, nos fazemos de desconhecidos. Meu amigo, Uísque, diz que eu não devia tê-la maltratado. E dou-lhe razão enquanto a contemplo. Os goles no Martini realçam seus lábios carnudos, convidando-me a reencontrá-los. Ela sabe que a admiro, e provoca. Tento disfarçar o olhar e ouço uma voz:

– Que belo malandro você me saiu! Deixar sua princesa por aí, às moscas? – mas, não é ela quem fala, é Uísque.

As luzes fracas esboçam uma silhueta de Tristeza no chão. Palavras dispersas me vêm aos ouvidos:

– Malandrão... noites... bobagem...

Penso ser Uísque novamente. Chacoalho a cabeça, mando-o se calar. No entanto, as palavras continuam. Não havia percebido: é Tristeza já ao meu lado. Tento ignorá-la, mas insiste:

– E aí, malandrão... Quantas noites mais nesta bobagem? – debocha.

– Não quero pensar nisto.

– Então, por que está aqui? Você sabe que ela sempre vem.

– E quem disse que estou aqui por causa dela?

– Tudo bem, não falo mais nada. Estou saindo.

– Não, não, fique! Se ela te ver ao meu lado, pode abrir o coração. E, na verdade, não consigo te deixar ir. Estou sozinho...

– Está sozinho porque é um idiota! Está na cara que ela te quer. Vai lá.

– Não tem jeito. É orgulhosa demais, eu conheço!

– Nem parece que é malandro... Vai lá! Você consegue dobrar a malvada. E olha ela com as pernas lá de novo. Descruzou... Cruzou... Está te chamando, rapaz!

– Você podia ir adiantar a conversa... Falar que é minha única companhia... Quando ela te ver, vai sentir compaixão. Diga que não agüento mais sofrer, que sem ela eu não vivo!

– E ela vai cair nessa?

– É a verdade! Ela é minha princesa. Só não consigo ir eu mesmo falar. Faça isso por mim. Diga que ela é tudo na minha vida.

– Vou, mas se a situação piorar, a culpa é sua, malandrão!

Tento reforçar minha amargura e olho o lado oposto do bar. Lá está minha princesa e suas pernas: divinas e distantes. A noite se estende e, após horas sem rumo, Tristeza acaba achando uma abertura. Na verdade, uma abertura concedida por um olhar disfarçado, seguido por sorrisos de compaixão.

– Acho que já posso ir embora. Vou deixá-los mais à vontade... – ouço Tristeza dizer sem ter certeza se a devo deixar ir, mas não consigo impedi-la.

Maravilhosa, minha musa se aproxima. Caminha imponente, majestosa. Sigo em sua direção sorrindo, com o coração batendo forte, os braços abertos. Uma lágrima se desfaz quando, de súbito, recebo o que creio ser o mais violento tapa que já levei. Em instantes, nossos lábios colam-se libertando todo o fogo do desejo reprimido. Entre beijos e carícias infinitas, ela repete-me o alerta que tanto já ouvi:

– Se você me fizer chorar de novo, pode me esquecer, seu cafajeste!

– Nunca mais, princesa. Chega de saudade!

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