terça-feira, 12 de junho de 2012

Pulp Fiction

Tempo de Violência
Por Patrick Corrêa

Narradas fora de ordem cronológica, as histórias paralelas de Pulp fiction (idem, 1994), cujo subtítulo brasileiro é absolutamente dispensável, apresentam, cada uma, o seu charme e a sua capacidade de interessar. Juntas, elas compõem o segundo filme de Quentin Tarantino, quarentão nascido no Tennessee, e respondem pela veracidade da afirmação de que se trata de um diretor talentoso e inventivo. Personagens cativantes em seus defeitos e descaminhos desfilam pela tela com desenvoltura incrível, entre eles a dupla que abre o longa, interpretada por Amanda Plummer e Tim Roth, que planeja mais um dos seus assaltos mirabolantes a uma lanchonete. A conversa entre os dois, um tanto improvisada, denota o que é a tônica de todo o filme: os diálogos. Todas as tramas versam sobre violência e apontam para um universo caótico, em que as armas e os gritos dão o tom de perseguições desenfreadas e pequenos “serviços” que devem ser executados por alguns subalternos descolados. A cena de abertura é a apenas um aperitivo das mais de duas horas de filme, que transcorrem com uma fluidez admirável.
À armação em tom nonsense de Pumpkin (Roth) e Honey Bunny (Plummer) se segue uma exibição de créditos pontuada por uma trilha sonora super cool, escolhida com muita propriedade pelo diretor, e que se divide em duas músicas até que todos os dados relativos ao filme apareçam. Então, somos apresentados à dupla mais interessante de todo o filme: Jules (Samuel L. Jackson) e Vincent (John Travolta), que dominam quase todas as cenas depois que aparecem. Eles têm de fazer uma cobrança em nome de um chefe que foi traído, e essa desforra tem desdobramentos sangrentos. O mesmo Vincent precisa, em outro momento, fazer companhia a Mia Wallace (Uma Thurman), a mulher do dito perigoso Marcellus (Ving Rhames), e o encontro dos dois rende uma das cenas mais icônicas do filme, bem como da história recente do cinema: atendendo aos apelos dela, Vincent sobe na pista de dança e ambos começam uma coreografia muito peculiar, que encanta e conquista pelo que têm de simples e inusitada. Não há nada de realmente relevante na sequência; ela deve apenas ser sentida, como se o espectador pudesse embarcar no delírio de movimento dos dois

O título do filme tem uma justificativa. Ele faz referência direta a um tipo de publicação muito popular durante boa parte do século XX, cuja principal característica era justamente a violência. Esse detalhe chega a ser explicado em uma epígrafe do filme, para depois surgir a cena que, a depender do ponto de vista, pode ser considerada o prólogo ou o epílogo da obra. O resumo de tudo é a constatação de um Tarantino inspirado, que soube tirar grande proveito de sua mente criativa, alimentada por anos de exposição a filmes de toda sorte, do tempo em que ele trabalhava como atendente de uma videolocadora, um episódio de sua biografia sempre citado. Aqui, ele conseguiu casar uma trilha sonora muito bacana com atuações inesquecíveis e personagens que caem como luvas para seus intérpretes, sem necessariamente entregar personagens arquetípicos para nenhum dos atores. Assim, brindou a plateia com um dos grandes exemplares da vindima proveitosa da década de 90, uma teia genial de histórias mirabolantes.

FONTE:http://www.cineplayers.com/comentario.php?id=32796

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