quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A Academia e o Desequilíbrio do Romântico

Existem poetas irresistíveis às mulheres. Além de sua exuberante poesia e oratória, são detentores de beleza física, charme e elegância. Esse com certeza não é o meu caso! Sou alto - até de mais – gordo - até de mais – desajeitado - muito além do que se consideraria “de mais” - e além de tudo desleixado com maneiras e postura corporal. O que restaria a mim como alternativa na busca de uma parceira? Poesia... o amor proveniente do coração de um sensível e romântico poeta!
Com essas armas, se é que isso pode se chamar de armas, eu lutei pelo coração de uma jovem. Essa, que por sinal, é linda. Cabelos dourados com sinais avermelhados - resplandecentes como raios solares no fim de tarde - baixa estatura, postura ereta, olhos negros – intensos como as mais profundas águas do oceano – lábios grossos e carnudos e pele alva. Além das características físicas, ela é guardiã de intenso apreço por boa leitura – adereço que intensifica o desejo deste que lhe escreve -.
Pois bem, tudo corria bem. Senti que ela se apegou ao meu romantismo. Lia meus escritos e seus olhos profundos brilhavam. Houve vezes que escrevi só para ver aquele brilho – a título da mais luzente estrela – mediante a imensidão daquele negror – comparada ao breu ludibriante do céu -. Eu a enderecei todo carinho e amor que possuía meu gigantesco corpo. Ajustei meu coração às suas formas para que mulher nenhuma pudesse arriscar roubar um centímetro, que fosse, do especo que era dela. Começamos a namorar. E rapidamente a faísca da paixão se tornou uma fogueira de amor. Passaram-se meses e a tal fogueira já estava virando um incêndio. Quando o maldito desequilíbrio chegou a nossa surreal relação. Como uma madrasta maléfica que tenta destruir o conto de fadas. Era uma noite comum. Ela se olhava ao espelho e eu admirava. Eu estava tão intertido em contemplar aquele monumento a beleza que não percebia que o que ela fazia, fazia com jeito desgostoso.
- Amor você acha que estou gorda? (Perguntou ela)
- Lógico que não. Você é linda. E afinal, quem sou eu para reclamar de gordura? (Respondi tentando implicar graça a situação)
- Minha mãe falou que estou gorda. Não quero ficar feia, você é tão perfeito que merece o meu melhor. (Essa fala foi fundamental para que percebesse que ela estava aflita)
- Vem cá meu amor. (Tomei seu pequeno e meigo corpo contra o meu e olhando em seus olhos falei) Eu lhe amo do jeito que estás, e se seu corpo mudar nada dentro de mim mudará, pois a matéria é mortal. Contudo o amor a tudo subisiste.
(Achei que mudaria a situação com essa observação ultra inspirada e romântica, mas não surtiu muito efeito.)
- Que lindo amor. Mas se eu quiser fazer academia com minha irmã você ligaria?
(Logo veio a minha cabeça meu pedacinho de perfeição envolta em um daqueles macacões super justos e um bocado de homens boçais e asqueroso a observando.).
- Lógico que não me importaria meu bem. Jamais me oporia a uma ação que lhe levaria a felicidade. Afinal, não existe nada que me leve mais ao êxtase do que um sorriso seu.
( O pior é que eu julguei que isso seria bom para a autoestima dela. Mal sabia eu que isso seria o fim da minha.).
Passaram-se os dias. E ela, ao invés de acordar às 7 horas matinais, o costumeiro, acordava às 5 horas. E como era de nosso feitio, quem acordasse primeiro mandava mensagem telefônica de “bom dia” ao outro. Todos os dias passei a acordar às 5 horas da manhã. Quando ela estava voltando (da academia para casa) passava em minha porta para me dar um beijo. Na primeira vez que isso ocorreu, eu fiquei pálido. Seu corpo estava, esculturalmente, marcado e exposto por aquele pedaço de “sei lá o que” que chamam de roupa. Ela estava linda, mas enquanto vinha em minha direção, os homens que transitavam por perto paravam e a observavam inertes. Como estátuas. Hipnotizados.
Essa situação me corroia. Nunca fui machista, muito menos daqueles que tinham mulheres como posse. Mas a simples possibilidade de ver outro homem desejando e, mesmo que em pensamentos, possuindo a única dádiva que tenho em minha medíocre vida me consumia. Mas aquele sorriso... aquele límpido e doce sorriso, esse era o alento de toda a minha moléstia.
No entanto, a minha saga contra a maldita academia ainda não havia acabado. Era certo que toda noite, antes de dormir, que nós tivéssemos uma longa conversa. Além de enamorados, éramos amigos confidentes. Tudo que nos passava despejávamos sobre o outro. Risos, lágrimas e silêncio... tudo passávamos juntos, mesmo que por telefone. Por tanto, depois que essa perturbadora necessidade de malhar começou, ela desejava dormir mais cedo. O pretexto era o cansaço e a hora da alvorada matinal. Ah como isso me machucou. E agora, o que darei a ela? Carinho já estava impossibilitado, não havia tempo (pois ambos trabalhamos). O alento de minhas palavras seletas já não lhe alcançavam, pois não nos falávamos mais. Esse não foi o fim do nosso amor, pois amor não tem fim. No entanto, nos afastou. Eu precisava de sabedoria para sanar essa situação. Tentei me conformar. Não deu certo, na verdade não durou nem um dia essa minha conformação. Então desisti de tentar. Por cansaço me fiz indiferente. E por incrível que pareça em uma semana ela largou a academia. Sua queixa era que eu não a desejava mais, que estava gélido e que ela estava temente em me perder.
Vai entender o ser humano... quando busca-se solucionar os problemas, eles se fortalecem e quando o cansaço nos domina, ele se finda. Isso me ensinou uma grande lição. Não adianta esquentar a cabeça, pois quando o problema não há solução ele se soluciona sozinho. Hoje sou feliz. Sem academia e mais perto que nunca do amor.

Breno Callegari Freitas

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