quinta-feira, 19 de julho de 2012

O amor e o calabouço

Uma sinfonia invade meu sono e arrebata-me dali.
Raios fortes e intensos sufocam-me, me atingindo na direção dos olhos.
Ali deitado na cama odeio os pássaros e suas sinfonias diabólicas e o sol com seu brilho irritante.
Levanto-me leio algumas cartas, e logo me recolho novamente a meu calabouço sentimental nominado cama.
Ali passo meus dias escrevendo poesias sem sentimentos e alimentando a maledicência de minh’alma.
Sim sou um poeta maldito, na verdade sou um maldito poeta!
Minha mãe fala que eu preciso me apaixonar. Ela não sabe nada sobre mim.
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Em uma noite eu avistava por dentre a fenda da persiana algumas estrelas ornando o céu.
Nesta hora eu escrevia algo sobre suicídio.
Uma mensagem de texto chega a meu aparelho celular, como de costume olhei o número e o lancei fora sem ler o conteúdo.
Antes que eu terminasse a poesia o celular emite um bipe e se acende.
Era uma segunda mensagem do mesmo número. “Não me importa.” Pensei.
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Mas um dia chega com os malditos passarinhos cantando nos fios elétricos que recostados estavam a minha janela.
“Pássaros do inferno” gritei tentando espantar as aves. Consegui.
Novamente deitei me cobri. Ao ajeitar meu travesseiro percebi que ele repousou toda noite por debaixo de minha cabeça. O peguei e olhei as horas (nunca sabia as horas exatas).
Ao acender recordei-me das duas mensagens. Então abri e li:
“Querido Cássio Dias, sou sua fã. Suas palavras são regadas de verdades. Parabéns.”
“Eu moro perto de sua residência, eu também escrevo. Gostaria de mostrar-te minhas poesias. Em todo caso agradeço a atenção.”
Ao término de sua segunda mensagem meu corpo encontrava-se inerte, perplexo por uma mulher se interessar pelo lixo que produzo. Na certa ela queria se promover sobre minha imagem.
Mas não doeria entrar em contato.
Disquei o numero que estava anexado a mensagem.
- Olá boa noite, sou Cássio Dias. 
- Olá Cássio, me chamo Lorena. Que bom que recebeu as mensagens!
- Olha eu estou disposto a olhar seu material. Podemos nos encontrar?
- Claro. O que acha de amanhã a noite no restaurante Recanto das Massas?
- Ok. As dezenove horas. Não se atrase, por favor. Até mais.
- Até...
O telefone desligou-se. Mas fiquei alguns segundos parado com o aparelho rente ao rosto. Aquela voz feminina meiga... doce. Um resplendor sonoro. Um eco suave que tomou meus tímpanos levando-me a êxtase.
Nesta noite não dormi. Precisava escrever algo sobre a voz. 
Pela primeira vez fiquei sem palavras.
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O Dia passava lentamente. 
Massacrava-me esperar a materialização daquele doce som, que em breve viria ao meu encontro.
Não me permiti a idealizar. Não queria perder meu tempo pré-conceituando algo que para mim parecia perfeito. Não teria capacidade para criar uma figura que adequar-se-ia a aquela voz.
Milênios em forma de horas se passaram.
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Cheguei meia hora adiantado, já não aguentava mais ficar longe daquele ser que mesmo desconhecido, pra mim, era algo que decifrava a palavra perfeição. A doçura, a luz refletida por aquela voz ainda me alucinavam.
Cada moça que entrava pela porta era uma apreensão indescritível.
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Uma loira, baixinha entrou pela porta lateral. Confesso que nesta hora eu estava distraído.
Ela veio por detrás de mim e colocou sua mão (muito pequena e macia) sobre meu ombro e com um sorriso avassalador disse:
- Cássio? Eu sou a Lorena, prazer em conhecê-lo.
Ela era baixa. Sues cabelos loiros como raios solares de meio dia. Forte e marcante era a tonalidade de seu cabelo. Sua pele alva milimetricamente fazia par a cor forte de seu cabelo. Branquinha e macia como lã sua pele se manifestava. Ao toca-la a vontade era de nunca mais soltá-la. Seu sorriso grande e afetuoso escondia dentes brancos, limpos e muito bem cuidados. Seu batom vermelho era contraste entre sua pele alva e seu cabelo intenso. O batom era um convite ao leitor daquele sorriso. Um convite que dizia: “Esta boca pode ser tua, beije-a.”.
Perplexo com a perfeição anunciada por aquele corpo permaneci ouvindo e lendo os trabalhos que ela me apresentava.
Era uma boa poeta. Mas eu a queria como amada.
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O programa com a deusa findou-se e voltei a meu calabouço.
Mas diferente dos outros dias eu não queria escrever.
Eu queria vê-la, tocá-la, poetizar sobre seus angelicais traços e moldes.
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O dia chegou. E eu não dormi. Abria à persiana e a janela. O silêncio reinava, o sol ainda tímido apontava no horizonte distante e os pássaros sobre os fios dormiam silentes.
“Bom dia!” Gritei e observei os pássaros acordarem assustados e levantarem voo. Em risadas, me dei que tudo estava diferente. Tudo havia ganhado forma e cor.
O que era maldição em mim transformado estava.
Talvez a minha velha mãe me conhecera melhor do que imaginava.
Eu precisava de amor.
Peguei papel e caneta e escrevi meu primeiro poema de amor.

“Quando chega o sol pela manhã, logo o soberano vem saudar-me. Mal sabe ele que os raios que emanam de sua superficie não mais me encantam, pois hoje em meus pensamentos o que resplandece viciantemente é o loiro dos cabelos DELA!
- Cuidado sol, pois ELA é mais luzente que o Senhor!
Despesso-me dele e rapidamente já brindam-me as aromáticas flores. Essas também não sabem que nãomais as desejo, pois nada supera o cheiro DELA.
- Cuidado flor, pois não há nada mais sublime que o perfume DELA!
Invejam-me sol e lua, oceano e margens arenosas, pois seus respectivos pares em nada se comparam a companhia dela!”
Peguei o celular e escrevi para Lorena:
“Olá Lorena. Sou seu fã e escrevi uma coisa que queria lhe mostrar. São mais sentimentos que palavras. Marquemos hoje a mesma hora e no mesmo lugar. Vai preparada para mudar sua vida, pois a minha sua presença já o fez.”.
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Nesta vida quando estar sozinho parece a solução para o problema o amor vem devastando o que parece sólido e desvenda a verdadeira face da felicidade. Nada melhor do que amar.


Breno Callegari Freitas

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