segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Porta entreaberta

Suou a campainha
Vesti o roupão branco
E abri levemente a porta
E por uma fresta
Como um raio uivante de sol
Ela entrou
O encanto que lhe seguia fechou a porta
Não precisei me mover
Pude apenas contemplar tamanha manifestação divina
Ao passar por mim sorriu sem parar de andar
Deitou-se na cama e continuou a sorrir
Enquanto seu perfume coloria as paredes
Peguei uma máquina fotográfica
Deitei ao seu lado
E nos fotografei
Arranquei a antiga foto do porta-retratros
Depositei a nossa
E coloquei o porta-retratos sobre o rack da sala
Ela foi até a cozinha
E cozeu delícias para o jantar
Concomitantemente liguei para a empresa em que trabalho
E pedi que a inclui-se no meu plano de saúde
Jantamos ao som da valsa que provem da felicidade dos anjos
E nos amamos na relva voraz do tapete da sala de estar
Deitados e olhando para o teto
Escolhemos nomes para futuros novatinhos da família
Degustamos um pouco mais de saliva
E ela adormeceu sobre a rigidez do meu peito
Na manhã seguinte:
MALAS PRONTAS
Ela disse que ouviu palavras saindo da minha boca enquanto eu dormia
“Você é minha”
“Respeite-me”
“Eu quero tudo SÓ para mim”
Foi-se pela mesma greta que entrou.
Sem falar nada

Ela fez o certo
Não sou homem com quem se deseja casar
Talvez um mero desfrute momentâneo,
Ou então,
Nem isso.
Egoísta
Dominador
Alguém que sonha em ser feliz
Custe
O que
Custar

Desamarrei o roupão
Voltou-se a nudez de outrora.
Deixei o porta-retratos no mesmo lugar
(mas tarde o tiro de lá)
Lavei a louça
Arrumei a cama
(Voltei a dormir no sofá)
Tudo como estava antes...
Menos a porta
Essa não tive coragem de fechar.
Breno Callegari Freitas

Nenhum comentário:

Postar um comentário